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Fica sempre aqui

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    Fica aqui, perto de casa, perto de mim. Fica sempre por aqui, por perto. Aqui, onde o nosso céu é mais azul, as flores mais cheirosas, as árvores têm mais frutos e os animais andam devagar. Fica aqui, anda comigo. Me dê a mão enquanto teus olhos se demoram mais um pouco naquele monte. Sente esse arrepio que corre em mim, enquanto o sabiá canta e eu te digo baixinho o quanto te quero. Sabes, aqui beijei o teu cabelo, enrolei meus dedos nele. Cheirei aquele lugar em que teu pescoço se junta ao ombro e desvaneci-me em ti. Cantei-te todas as minhas canções e dancei contigo os passos de uma vida inteira.  Tu sabes que sem ti me perco de tudo o que há em mim. Mas se ficamos aqui, perto de nossa casa perfeita, onde embalei-me todo em ti, só aqui consigo sossegar e acalmar o medo que cresce perigoso em mim. Sabes que sem o teu calor nem sei dizer quem sou. Só aqui, dentro destas paredes consigo respirar. Faça-me esse favor. Não se afaste daqui, nem permita que eu me afaste de

Michael

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  Não tem como evitar: o domingo sempre me leva de volta à casa da minha avó. Aos grandes almoços com a família, quando esta era grande. O quintal, com as brincadeiras das crianças e as criações da casa: muitas galinhas, patos, gansos e marrecos. Como toda criança, ficava muito feliz quando os ovos chocavam e nasciam os pintinhos. Ficava observando e de toda a cria sempre escolhia um e dizia prá minha avó: esse aqui vai ser meu, prá brincar comigo, pode? Minha avó sempre dizia a mesma coisa: pode sim, mas já não chegam os seus primos e os seus amigos prá você brincar? E eu ria, e ficava feliz por saber que tinha tantas opções. Bom, o meu escolhido começava a crescer, trocava a penugem pelas penas e mudava de cor. Mesmo no meio de tantas brincadeiras eu gostava de acompanhar o crescimento deles, e minha avó sempre botava um anelzinho no pé do meu "escolhido". Ele ganhava direito até ao batismo, ganhando um nome, geralmente de um artista da época. Lembro de um especial,

Escrevo...

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  Não sei qual foi o dia da semana em que nasci. Sei que foi à noite, às 20 horas. Não sei se chovia, se era noite clara, com lua. Mas de uma coisa eu sei. Nasci com uma camada muito fina de epiderme. Tenho os nervos muito expostos. Com pouca ou nenhuma proteção, estão à mercê de tudo. E de todos. Por isso tive a vantagem de ter, com minha avó, que me criou, um relacionamento muito íntimo... eu era muito mais sensível ao carinho do que as outras crianças. Daí a razão desses meus olhos que vazam tanto, quando estou diante de carinhos e doçuras. Não só os carinhos, mas também as dores. Sempre fui intensa no sentir. Prazeres os mais plenos e dores as mais pungentes. Sensíveis na pele, não apenas os meus, mas os dos que me são caros. Sofro por eles suas dores e me alegro com seus prazeres, daí essa facilidade de compreender a alma. Sei pouco do que me reserva o futuro, ando na fé do que Deus reserva para mim. Mas sei que nasci para transcender, para amar e, amando, sofrer. E sei q

Em obras

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  Tum... tum... tum.. Batida forte. Ela fica lá dentro, quieta, só escutando. Lá dentro, onde o barulho faz eco. Barulho de mãos à obra. No canto onde está tem uma visão privilegiada de tudo o que acontece. Vê, toda por inteiro, a sua casa. Meio sombria, pois há dias não deixa o sol entrar pelas cortinas. As paredes precisam de uma pintura nova. Mas só quando chegar o novo dono. Só quando estiver desabitada de vez. Por enquanto, vai ficar assim. Com todas as suas marcas. Com seus arranhões nas paredes ásperas. Sob as suas unhas ainda sente o concreto, o cimento, a terra e a tinta. Pois, sem perceber, está cavando um buraco, há vários dias. Não sabe onde ele vai dar. Só sabe que precisa ir embora. Crédito da imagem: Fotografia de © Igor Voloshin O trabalho Em obras de http://rabiscosdalva.blogspot.com.br/ foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada .

A lua e eu

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  Lá fora vejo, pela  janela, o azul do céu pintado de vermelho pelo por do sol. Essa hora perigosa do crepúsculo é quando mais sinto a falta da luz dos teus olhos. Me esforço e me contenho para não incomodar você com coisas tão pequenas. E lá vem ela, a lua. Despontando no céu, cheia e amarela, iluminando tudo a minha volta. E sussurrando prá mim, baixinho:  "diz... fala... escreve..." Como se faz para ignorar a lua? * Imagem via Pinterest O trabalho A lua e eu de http://rabiscosdalva.blogspot.com.br/ foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada .

Como Ícaro

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  Sei que não é loucura minha, sei que é só maldade tua. Ficas aí, do teu mundinho pequeno a me espreitar. A me vigiar pelas frestas das tuas janelas, pelos buracos na parede que tua malícia vai abrindo dia após dia. E pensas que assim vais me possuindo. Sinto que teus olhos vão me consumindo, em fatias, em nesgas, em pedaços. Mas eu, a cada dia, mais cresço. A cada dentada tua, a cada bocada, sou um pouco mais eu. Cresço na medida em que pensas que me consomes. Mas tu, como um rato, te esgueiras sobre as telhas. Fazes malabarismos perigosos só para me ver passar. Não faz mal. Gosto de me exibir. Faço questão de mostrar minha intensidade. É disso que tens inveja. De minha paixão embriagadora, de minha euforia incontrolável. O que tu querias mesmo era ter as minhas asas. Essas mesmas que me fazem ser capaz de alcançar o inatingível. Mas tu não és capaz de voar como eu. Guardaste tuas asas dentro de um armário escuro e o fechaste com cadeado. Só sabes mesmo viver assim, na espreit

Casa nova

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O ano novo se apresenta como uma casa nova, para a qual estou de mudança. As velhas paredes descascadas estão cobertas por uma nova tinta, mais clara. O cheiro é forte.  Quero assim. Despojamento, sem cortinas, sem tapetes. Tinta branca na parede. Chão limpo. Janelas limpas para que eu possa ver a tarde indo embora pelo vidro. E o cair da noite pardacenta. São vinte horas e não chove desde dezembro. Não sei se é uma boa época para mudança, mas sou assim: decidi e pronto. Vim a pé, ligeira -  e fui deixando pelo caminho marcas para quem quiser vir atrás. Da casa velha não trouxe quase nada. Algumas peças de roupas usadas. Livros que ainda não li. Um ou outro CD antigo. E duas malas velhas. Uma vazia e outra cheia. Esta vou abrir logo, sacudir e esvaziar no meu novo chão que, de tão limpo, me reflete inteira. Sou assim. Gosto de recomeços. Crédito da imagem: Decorando e Construindo.com O trabalho Casa nova de http://rabiscosdalva.blogspot.com.br/ foi licenciado com uma L