Agridoce
Com gosto de nunca mais na boca, correu prá geladeira e mordeu uma manga bem doce. Mordeu com vontade, deixando de propósito que o néctar doce escorresse pelos cantos da boca, caísse pelo queixo e encharcasse a roupa. Só para ter a impressão de que tanta doçura seria capaz de amenizar o fel que sentia. O doce da fruta se agarrava nos seus lábios, e ia boca adentro, irrigando e perfumando seu hálito. Ela queria era que ele chegasse no seu coração salgado, que boiava em um lago de grandes e grossas lágrimas, agitado pelo vento frio que sopra da solidão, este sentimento tão azedo que, misturado ao doce da fruta, congela o seu dia de hoje, agridoce.
* Fotografia de Nicolas Valois
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