Se essa rua fosse minha
Ele, como ninguém, sabia recriar o mundo dela. Na simplicidade dos gestos e na escassez das palavras ele era tudo, ele dizia tudo. "Vem cá, que hoje eu quero paparicar você um pouquinho. Fica triste, não. Vem comigo, vamos dar uma volta que você vai se sentir melhor. "
E lá ia ela, amparada nas mãos dele, como se fossem sua tábua de salvação.
No frio, o abraço era forte para esquentar o seu corpo gelado. No calor era sundae, água de coco e suco geladinho. Nas horas alegres falavam muita bobagem, riam muito. Nas horas tristes, quando a escuridão caía, bastava que caminhasse a seu lado para que todas as esquinas tortas se ajeitassem... e ele falava assim: "Olha, você percebeu como esta rua está linda, toda ladrilhada com pedrinhas de brilhante? Tá vendo? Fui eu que coloquei pra você, só pra você..."
Nada de mais, palavras e frases comuns, bobas até. Mas que poder de cura elas tinham!
Hoje, sozinha, ao caminhar pelas ruas, não consegue mais ver as tais pedrinhas. Anda devagar, de cabeça baixa, com muito cuidado para não tropeçar nas pedras do caminho. Não porque tenha medo de joelhos ralados, mas por saber que seu coração não aguenta mais nenhum remendo.
* Fotografia de Dalva Nascimento
O trabalho Mesa farta de http://rabiscosdalva.blogspot.com.br/ foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

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