Como se fosse a primeira vez



Mudança: esta é a única coisa que permanece em mim. Mudo a cada dia, a cada hora, a cada momento. Sou ser em construção. Viver é superar fases. Fazer travessias. Da infância para a adolescência, para a juventude, daí para a idade adulta, a velhice e para a eternidade. Por isso nunca posso dizer: esta sou eu. A morte vai chegar e ainda não vai me encontrar pronta. Pois a vida é movimento constante. Mas quanto tempo demora prá gente mudar? Sim, mudo sempre, mas quando é que posso dizer que mudei de tal forma que deixei de ser quem eu era? Que sou outra diferente de quem fui? Quando mudo uma opinião? Quando mudo meu gosto musical? Quando mudo minha posição política? Quando corto o cabelo? Quando assumo um novo cargo no emprego? Quando perco um amor? Ou quando me apaixono de novo? Quando é que acontece isso? Quando acontece de verdade aquela transformação, aquela metamorfose que faz com que eu sinta e diga: sou outra a partir de hoje!?  Não sei ao certo, mas hoje posso dizer que vejo lá atrás uma casca, um casulo abandonado na estrada, e que de dentro dele saiu esta que, ao se olhar no espelho, se estranha. Estranho a força do vento no meu cabelo e a pressa com que correm os ponteiros do relógio. Estranho a vida que surge de meus passos e respiro e inspiro, devagar, com muito cuidado – pois é como se o fizesse pela primeira vez. 



* Fotografia de Jonè Reed




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